O reggae surgiu em grande nesta época carnavalesca. Face ao cada vez maior crescimento deste movimento e cenário musical no nosso país, as festividades de carnaval foram “invadidas” por vários espectáculos orientados em torno das sonoridades jamaicanas.
Como não podia deixar de ser, a Voz do Operário voltou a ser palco de mais uma destas festas. Desta vez a Avó Lemba Produções decidiu brindar o massive português com uma festa dupla, no fim-de-semana de 9 e 10, comemorando não só o carnaval, mas também prestando mais um tributo a Bob Marley, que no passado dia 6 de Fevereiro comemoraria 56 anos de idade... Com uma organização sem precedentes, pelo menos a nível de apoios, este reggae carnaval fest teve uma extraordinária divulgação, com o apoio de várias rádios, sites de internet, jornais e discográficas musicais, houve mesmo lugar a alguns passatempos com oferta de bilhetes! Fica aqui um sinal mais para todos os que se empenharam na organização deste evento. Quanto ao cartaz apresentava como principais atracções os inevitáveis Kussondulola e os promissores Like the Man Said, curiosamente as duas bandas que na última festa acabaram por ver as suas actuações frustadas pela intervenção policial.... A noite de sábado começou, como habitualmente, com o Fankambareggae soundsystem, com menos elementos presentes do que é normal, provavelmente devido à realização à mesma hora de mais uma sessão do Dubadelic soundsystem na Galeria Zé dos Bois (onde esperamos estar presente numa das próximas sessões desta também excelente iniciativa da cena dub/reggae portuguesa), acabou por ser o selecta Toy, aquele que em maior evidência e mais tempo esteve a “comandar” o soundsystem, passando inúmeros êxitos de Bob Marley em versões mais adaptadas ao dub, não deixando de introduzir outras sonoridades bem conhecidas de artistas como Jacob Miller ou Black Uhuru, apresentando no geral, uma boa selecção de temas propícios a um tributo a Bob Marley. Quando os Kussondulola subiram ao palco, já a sala estava bem composta, demonstrando que o massive português cada vez mais adere a estas celebrações e que os kussondulola continuam a ser a banda que mais público cativa. Com o concerto a abrir com dois dos seus temas mais bem conseguidos do primeiro álbum, “Amizade” e “Guerrilheiro”, de seguida, e após a entrada em palco da secção de metais, o grupo optou por ordenar uma espécie de “best of” ao fazer uma passagem por temas dos seus três álbum.
Acabou por ser cerca de hora e meia de euforia de um público que não via os Kussondulola actuar na Voz do Operário desde o verão passado, por altura da comemoração do dia mundial do reggae, nessa altura com um concerto onde foram também banda de apoio do artista jamaicano Almighty Dread. Depois de tão longa ausência, o concerto duplo a que se propuseram aqui neste Reggae Carnaval Fest, deixou-nos com curiosidade acerca do que iria ser a sua actuação no domingo. Com duração sensivelmente reduzida em relação ao dia anterior, este segundo concerto serviu a outro dos propósitos deste festival, a promoção e divulgação do seu último álbum “amor é... bué”. Assim, e com um alinhamento repleto de temas desse último álbum (donde se destacam “Luzeiros”, “Apanha Flash”, “Motivação Errada” ou “Toda a Musika”), apresentaram, como já vem sendo hábito nas suas actuações, algumas variações rítmicas inclinadas para o dub.
Não faltaram inevitáveis, repetições de temas do dia anterior e houve ainda lugar pelo meio da actuação, a uma referencia a Bob Marley, através das sábias palavras do vocalista Janelo: “Nada disto seria possível sem ele...” . Foi um concerto muito bem conseguido, com a consistência musical característica do conjunto luso-angolano, mas que no entanto não esteve envolto num clima de calor humano tão intenso como a actuação de sábado, provavelmente pela menor duração do concerto e também pelo menor número de público presente.
Aqueles que optaram por ir apenas no sábado, acabaram por perder mais uma boa actuação dos Like the Man Said , que brilharam na abertura deste segundo dia de festas. O conjunto lisboeta, que tem demonstrado uma evolução constante desde a sua primeira actuação na Voz o ano passado, apresenta uma fusão de roots reggae, com ritmos mais característicos do reggae contemporâneo, cada vez mais consistente. Com músicas conscientes e iluminadas pela sabedoria de Jah, interpretadas por um muito bom vocalista, que anima e interage muito positivamente com todo o público, só falta mesmo saber quando e que este promissor conjunto terá a oportunidade de se tornar numa das referências do novo cenário do reggae português. Para tal irão continuar a contribuir este género de iniciativas, que provam que com uma boa organização e divulgação consegue-se criar muito bons eventos em volta deste género musical.
Artigo e fotografias por Ricardo Jorge Duarte.