No dia 4 de Maio de 1494 Cristovão Colombo avista uma pequena ilha nas Caraíbas. Por ser tão bonita resolveu chama-la Xamayca¸ a terra das Primaveras¸ e foi aí que tudo começou. Com o passar dos séculos a ilha não poderia ficar despercebida fez-se uma pequena mudança no nome e pronto¸ a Jamaica surgiu por não ser apenas mais um país no Globo Terrestre¸ mas um país com uma importância no mundo da música.
Com o passar dos anos¸ muita coisa aconteceu¸ e a Jamaica passou por uma espécie de revolução e evolução musical: do Mento para o Ska¸ do Ska para o Rocksteady¸ e daí para o Reggae. Uma história foi sendo lapidada¸ ganhando força e forma¸ começaram a surgir da obscuridade grandes mestres¸ verdadeiros génios como Coxsone Dodd; Duke Reid; Lee Perry; King Tubby etc¸ que foram produtores incansáveis aos quais devemos tudo o que o Reggae é hoje. Como todas as músicas populares, trata-se essencialmente de comentários¸ o importante é que esse comentário reflecte cada pensamento¸ em cada pulso do ritmo¸ a ideia de sobrevivência e acomodação. Pior ainda quando lutam pela sua entidade¸ extraviada quando os navios faziam a travessia do Atlântico para o Novo Mundo com escravos. Os comentários diziam respeito a essas realidades. Não é de surpreender que o povo jamaicano goste de música como o "Swing". Muito popular durante e após a Segunda Guerra Mundial¸ o Swing originou-se nas bandas negras dos Estados Unidos¸ como as de Eckstine; Count Basie; Duke Elligton etc. O Swing chegava à Jamaica pela rádio. Algumas estações serviam um público de classe média. O número de músicos que tocavam Mento (Música tradicional jamaicana ou seja Folk)¸ diminuiu consideravelmente¸ em especial nas zonas urbanas. Apesar dos esforços de produtores como Ken Khouri; Stanley Motta e Herman Chin serem esporádicos¸ deram origem à moderna indústria fonográfica jamaicana. Músicos de Mento podiam agora ser ouvidos na rádio ou em pequenos sistemas de som os (Sound System). Porem nem o Mento nem o Swing das bandas eram o som adequado às necessidades dos jamaicanos urbanos. Preferiam o Rythm & Blues da cultura negra dos Estados Unidos. O apelo do Rythm & Blues foi imediata e totalmente absorvido pelas massas jamaicanas. Com esta chegada as bandas de Swing desapareceram¸ e elementos de Rythm & Blues eram combinados com Mento e formou-se as bases onde se desenvolveu o Ska. Por essa altura os músicos já estavam familiarizados com os instrumentos nas músicas das poucas bandas urbanas profissionais¸ existia um grupo reduzido de grandes instrumentistas e por volta de 1955¸ tanto ritmo do Mento quanto aos acordes do Boogie e R&B podiam ser ouvidos. Esta mistura de ritmos deu origem ao Ska um ritmo com a tónica no segundo e quarto tempos¸ geralmente numa progressão de doze compassos. O contratempo acentuado por uma guitarra ritmíca ou pelo piano veio a ser a característica dessa forma musical¸ no Ska nenhum instrumento predomina. Trompetes e Saxofones enfatizam a batida da guitarra¸ o baixo era tocado no estilo de Walking Bass a bateria toca a estrutura básica do 4/4 e os sopros executam os solos. Com o desenvolvimento do Ska surgiram solistas de grande habilidade e talento. Muitos Jamaicanos estavam orgulhosos dos progressos e experiências¸ mas muitos não gostavam da forma das letras¸ quase sempre acompanhadas por uma batida distinta e constante¸ rimas infantis¸ músicas de trabalho¸ provérbios jamaicanos¸ versos bíblicos¸ cantigas rastafari¸ temas do cinema e Gospel. No final dos anos 50¸ os novos cantores concentravam-se na situação económica e na injustiça social sofrida pelo povo. Quando em 64 os Wailers convidaram os jovens "Simmer Down" (Abrandar a Fervura)¸ estavam na verdade a avisar sobre os dias turbulentos do final da década ainda por vir¸ os Wailers estavam à frente desse tal movimento usando a música para pregar a unidade dos negros¸ o amor de Deus e a construção de uma irmandade para a Humanidade mais justa¸ foi um período marcado pelo crescimento da consciência e militância negra pelo mundo inteiro. Muitos dos jovens tornaram-se "Rudies". "Rudeboy" aplica-se a qualquer que seja contra o sistema e viva de forma marginal. Descreve os jovens revolucionários das classes mais pobres e também os inspirados na cultura Rasta¸ como os Wailers que rejeitavam os padrões dos brancos. Em 1966¸ a visita de sua majestade imperial Haile Selassie I da Etiópia¸ foi saudada com entusiasmo por milhares de pessoas e poucos tinham entendido a magnitude da influência Rasta. As músicas possuíam agora outro impacto com os comentários sociais e críticos contra o sistema que veio caracterizar o Rocksteady. A diminuição do tempo e o ritmo partido ao meio causavam um efeito um pouco sinistro. A linha de contrabaixo assumiu a música com a bateria, e o baixista "sólidos como rochas"¸ (Rocksteady). A necessidade de justiça social¸ de verdade e direitos espelhava nos sentimentos dos pobres e a música continha uma certa solidariedade e desenvolveu-se a moralidade e protesto tais qualidades existentes no Reggae. Foi a influência Rasta com as suas imagens bíblicas¸ juntamente com a pobreza urbana¸ que transformaram o Rocksteady em Regae na forma mais expressiva para a juventude do Gueto. O produtor Coxsone Dodd foi pioneiro com o famoso Studio One¸ foi a contribuição para o desenvolvimento do Reggae. Novos aspectos de ritmo foram introduzidos. O baixo tornou-se mais forte e enfático¸ conduzindo a batida e permitindo que o baterista floreasse um pouco com acentuações nos pratos, a guitarra era tocada de forma cíclica acentuando os acordes no contratempo o que não ocorria no Ska e Rocksteady. O impulso vinha de um padrão constante de dois acordes a fornecer um contraponto persistente para a forma de chamada e resposta. Os pianistas e guitarristas misturavam os seus acordes de forma a tornar a acentuação rítmica numa espécie de pulsação e um novo ritmo nasceu¸ o Reggae. O clima¸ as harmonias e o pulso medido fazem do Reggae uma fórmula hipnótica¸ totalmente à parte de todo o panorama musical. No início dos anos 70¸ era produzido Reggae numa infinidade de estúdios que surgiram. O melhor trabalho dessa época vinha de três produtores: Clemente "Sir Coxsone" Dodd¸ Lee Perry e Leslie Kong. O Reggae tinha nascido e o caminho estava aberto para todas as vertentes do Reggae¸ o Dub¸as versões¸ os Toasters uma espécie de vício no público que dançava com os Sound System abriu-se para graus infinitos de improviso¸ a liberdade procurada nas letras foi adquirida pela música¸ e em 1972 era a hora do Reggae atacar como se vê hoje em dia¸ um grande fenómeno.
DUB - O Dub é um mostruário musical feito pelo engenheiro de som, que nos permite ouvir de forma isolada partes de faixas que normalmente estão misturados com outros. o Dub era o passo mais lógico depois da versão. Usando várias técnicas¸ estes verdadeiros engenheiros de som ressaltaram o trabalho do baixo e bateria com efeitos de eco e outros efeitos e cheio de improviso que parece que a música se conduz sozinha¸ acaba por ser uma música psicadélica que com esse ritmo e formato de composições incomuns tornaram as possibilidades infinitas. Sem o Dub¸ ou as versões a arte do Reggae teria ficado confinada a um grupo restrito de músicos de estúdio e estúdios musicais em Kingston. Porém¸ as novas gerações agora podem e desenvolvem todas estas técnicas¸ adaptadas aos nossos dias com novas tendências.
Rastafarianismo - Rasta¸ Dreads¸ Natty e Dreadlocks são um modo de vida religioso¸ com ligações à religião cristã e judaica. A filosofia Rasta formou-se por volta dos anos 30 na Jamaica¸ graças às palavras de Marcus Garvey (herói Nacional da Jamaica)¸ fundador da linha marítima para África (Black Starliner)¸ "Olhem Para África, Onde Um Negro Será Coroado Rei"¸ mais tarde a profecia bíblica de Marcus Garvey tornou-se real¸ quando Ras Tafari Makonnen foi coroado Rei dos Reis¸ Senhor dos Senhores¸ Leão Conquistador da tribo de Juda¸ descendente da dinastia salomónica¸ nascendo assim o movimento Rastafari através do congresso nacional etíope ¸ as doze tribos de Israel¸ a qual Bob Marley fez parte¸ Bobo Dreads e Nyabinghi. Para os Rastafarianos, Selassie é mais do que um líder político¸ é uma cultura de vida de como compreender o mundo e respeitá-lo. Os Rastafarianos levam uma vida pacífica¸ de acordo com a Bíblia praticando o Bem à natureza¸ vivendo dela e a Humanidade em termos de justiça e igualdade¸ podendo qualquer um de nós independentemente da cor ou raça interpretá-la¸ pois¸ todos temos interpretações diferentes e pontos de vista diferentes, pois Jah é Universal. Ser Rastafariano não é estar dependente de uma igreja ou doutrina¸ pois¸ a fé é feita pelas nossas próprias interpretações da vida. Por isto é nosso dever vivermos em harmonia - Homens e a Natureza.
O Reggae é uma força espiritual¸ de origem Jamaicana¸ ouvida e compreendida em todo o mundo¸ e com uma forte componente filosófica e política. Deixamos aqui uma pequena sugestão desses ritmos e melodias que libertam sempre energias positivas A Bandeira Rasta Com as cores encarnado¸ amarelo e Verde¸ com a imagem do Leão com a coroação de Ras Tafari (Haile Selassie)¸ imperador da Etiópia em 1930 formou-se o movimento Rastafariano e com ele foi adoptada a bandeira etíope à qual se juntou a imagem do leão representando toda a sua força¸ energia e vontade de ser livre¸ desde então as três cores têm sido utilizadas em todo o Mundo.
Por : Carlos Quintão.